sábado, 26 de maio de 2012


[...] Seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma.

                                                                  (Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 21 de maio de 2012


[...] Tenho uma sensação constante de que estou vivendo à beira de algo que vai acontecer, e que nunca consigo alcançar. Meus nervos estão preparados para uma espécie de clímax. Sinto-me tensa, em expectativa. É tão aflitivo que começo a desejar uma catástrofe para aliviar a expectativa. Desejo que todas as calamidades, todas as tragédias, aconteçam logo. Quero cenas, brigas, lágrimas, quero ser devorada, quero bater nas pessoas. Sinto-me inquieta. Não consigo ficar muito tempo em lugar nenhum. Não consigo me sentar e não consigo dormir. Tenho sempre essa sensação de que preciso encontrar um alívio para essa espera, um momento estilhaçador, para poder repousar e dormir. O mundo inteiro me excita, sinto amor pelas pessoas nas ruas, a música mexe comigo a toda hora como uma carícia; sinto um desejo violento, e espero.
Sinto a tempestade chegando, sinto a angústia, mas tudo continua igual, lerdo, sem interrupção, sem relâmpago. Alguma coisa em mim quer romper, explodir. Em vez disso, tenho que tirar prazer rompendo a vida dos outros. Estou constantemente seduzindo os outros, encantando-os, capturando-os, ao mesmo tempo em que desejo que fossem capazes de fazê-lo comigo. Quero tanto ser capturada... Todo mundo me obedece, mas eles não encontram a chave de mim. Gosto de sentir seus corações batendo mais depressa, gosto de ver seus olhos flutuando, seus lábios tremendo, gosto de sentir a emoção neles. É como alimento. Fico fascinada com seus sentimentos. Sou como uma caçadora que não quer matar, mas quero sentir o ferimento. 

O que espero? Ser tomada pelo desejo do outro e nele me banhar. 

Arder. 

Quero ser despedaçada. 

Ao mesmo tempo que quero calor e simplicidade.

Anaïs Nin, In: A Casa do Incesto e Outras Histórias.

quarta-feira, 9 de maio de 2012